terça-feira, 30 de outubro de 2012

Para que um Ano da Fé? Jesus anunciou um ano de graça

No Evangelho de São Lucas (4, 19) Jesus começando seu ministério vai a Sinagoga como era do seu costume, em um dia de sábado, afirmando que veio para cumprir a profecia dada por Isaías, proclamando um ano de graça, na linguagem bíblica, isso significa um Kairós, um ano da graça de Deus.
A força do anúncio cristão se baseia, não somente na dimensão do perdão dos pecados, mas na salvação de todo o homem. Isso nos oferece uma dimensão no qual coloca o cristianismo, não  simplesmente como uma mudança de comportamento moral, mas num projeto de vida, que parte de um encontro pessoal com Jesus Cristo.
Aqui entramos no centro do Ano da Fé desejado por Bento XVI, favorecer um constante encontro pessoal com Jesus Cristo, e este cria em nós a fé. Mas para que serve, o que será e como devemos viver o Ano da fé? 
Começamos a responder a estas perguntas, na certeza que o Ano da Fé, tem como centro desejado, a redescoberta do caminho que nos leva a Jesus, e consequentemente nossa Identidade Cristã. Uma coisa leva à outra. Não falamos de descobrir, mas de redescobrir, ou seja, algo que já foi descoberto e que se perdeu, devido a tantas situações, isto gera em nós uma pergunta: Onde está o caminho que nos leva a Jesus?
A resposta é justamente a redescoberta da nossa própria identidade cristã, que, como já foi dito acima, não é apenas uma atitude moral, mas parte de um encontro pessoal com Jesus. Para isso se faz necessário que toda nossa vida se volte a esta realidade e não somente a um cumprimento de ritualismos, pois, ser cristão com identidade cristã é saber agir como Cristo em todas as situações da vida. Isso só acontece a partir da fé que nasce de um encontro pessoal com a Pessoa de Jesus.
Para viver bem este Ano da Fé, são necessárias colocarmos três ações que devem em comunhão: Crer, Celebrar e Viver. Aqui paramos diante da nossa realidade, e nos perguntamos: Nossa vida condiz com aquilo que cremos, celebramos e vivemos? Esta simples pergunta devemos fazer constantemente. O que vivo, celebro? O que celebro, creio? E o que creio, vivo?
Para vivermos bem este Ano da Fé voltemos para estes três verbos: Crer, Celebrar e Viver, e assim, somos chamados a colocar nossa vida como cristão, num contínuo processo de atenção e tensão, esta é a nossa constante medida de fé.
E o que será este Ano da fé? Seguramente será um ano de muitas graças e bênçãos para todo o Povo de Deus, mas também será um ano de muita provação, onde a nossa fé será colocada em jogo, devido a todo um sistema contrário a ela e ao cristianismo. Porém neste Ano da Fé, devemos esperar também um verdadeiro Kairós, de testemunho e anúncio, pois, o mundo precisa de cristãos santos que saibam anunciar com a vida e  palavras sua fé em Cristo.
Portanto, o que será este Ano da Fé? Somente uma pessoa de fé conseguirá sair dele ainda mais revigorado, solidificado, pois o justo viverá pela fé. (Hab 1,4)
Padre Anderon Marçal
http://blog.cancaonova.com/padreanderson

Entenda o significado da logomarca do Ano da Fé


O Ano da Fé é um tempo próprio para redescobrir, aprofundar e viver a fé católica. Esse período foi aberto oficialmente pelo Papa Bento XVI no dia 11 deste mês com uma Santa Missa realizada no Vaticano.

Até o dia 24 de novembro de 2013, quando será encerrado o Ano da Fé, o Santo Padre propõe várias atitudes para os católicos crescerem nessa virtude, entre elas, estudar o Catecismo da Igreja Católica (CIC), melhorar o testemunho cristão e crescer em obras de caridade.

Uma logomarca vai acompanhar toda a trajetória do Ano da Fé, carregada de um significado próprio. Entenda cada parte deste logo:




No campo quadrado e com borda, encontra-se simbolicamente representada a nau, imagem da Igreja, que navega sobre águas sutilmente esboçadas.

O mastro principal é uma cruz que iça as velas. Estas por sua vez, realizam o Trigama de Cristo (IHS). E, ao fundo das velas, aparece o sol que associado ao Trigama remete à Eucaristia.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

“Catecismo da Igreja Católica – 20 anos”

Palavra do Pastor
Iniciamos o Ano da Fé no dia 11 deste mês de outubro por convocação do Santo Padre Bento XVI. Ele se realiza na comemoração dos 50 anos do Concílio Vaticano II e sua abertura coincide com o Sínodo dos Bispos para a Nova Evangelização.
O mesmo Papa na sua carta Porta Fidei, com a qual estabeleceu o Ano da Fé, destaca a importância do Catecismo das Igreja Católica, que ora completa seus 20 anos, como instrumento fundamental para que os fiéis tenham a orientação segura sobre os conteúdos da fé: “Esta obra, verdadeiro fruto do Concílio Vaticano II, foi desejada pelo Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985 como instrumento ao serviço da catequese[4] e foi realizado com a colaboração de todo o episcopado da Igreja Católica. E uma Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos foi convocada por mim, precisamente para o mês de Outubro de 2012, tendo por tema ‘A nova evangelização para a transmissão da fé cristã’. Será uma ocasião propícia para introduzir o complexo eclesial inteiro num tempo de particular reflexão e redescoberta da fé.”
E o mesmo Catecismo deverá ser redescoberto no contexto das comemorações do Ano da Fé e da Nova Evangelização como baliza segura de: em quem se crê e o que se crê.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Indulgência Plenária para o Ano da Fé

Na ocasião da celebração do “Ano da Fé”, o Papa convida para que os católicos recebam a Indulgência Plenária, conforme orientações do seu Decreto. Veja abaixo alguns elementos dessa orientação papal: Ao longo de todo o Ano da Fé, proclamado de 11 de outubro de 2012 até o fim do dia 24 de novembro de 2013, poderão alcançar a Indulgência Plenária da pena temporal para os próprios pecados, concedida pela misericórdia de Deus, aplicável em sufrágio pelas almas dos fiéis defuntos, a todos os fiéis deveras arrependidos, que se confessem de modo devido, comunguem sacramentalmente e orem segundo as intenções do Sumo Pontífice:
A) Cada vez que participarem em pelo menos três momentos de pregações durante as Missões Sagradas, ou então em pelo menos três lições sobre as Atas do Concílio Vaticano II e sobre os Artigos do Catecismo da Igreja Católica, em qualquer igreja ou lugar idóneo;
B) Cada vez que visitarem em forma de peregrinação uma Basílica Papal, uma catacumba cristã, uma Igreja Catedral, um lugar sagrado, designado pelo Ordinário do lugar para o Ano da fé (por ex. entre as Basílicas Menores e os Santuários dedicados à Bem-Aventurada Virgem Maria, aos Santos Apóstolos e aos Santos Padroeiros) e ali participarem nalguma função sagrada ou pelo menos passarem um tempo côngruo de recolhimento com meditações piedosas, concluindo com a recitação do Pai-Nosso, a Profissão de Fé de qualquer forma legítima, as invocações à Bem-Aventurada Virgem Maria e, segundo o caso, aos Santos Apóstolos ou Padroeiros;
C) Cada vez que, nos dias determinados pelo Ordinário do lugar para o Ano da fé (por ex. nas solenidades do Senhor, da Bem-Aventurada Virgem Maria, nas festas dos Santos Apóstolos e Padroeiros, na Cátedra de São Pedro), em qualquer lugar sagrado, participarem numa solene celebração eucarística ou na liturgia das horas, acrescentando a Profissão de Fé de qualquer forma legítima;
D) Um dia livremente escolhido, durante o Ano da fé, para a visita piedosa do batistério ou outro lugar, onde receberam o sacramento do Batismo, se renovarem as promessas batismais com qualquer fórmula legítima.
Os Bispos diocesanos ou eparquiais, e aqueles que pelo direito lhes são equiparados, no dia mais oportuno deste tempo, por ocasião da celebração principal (por ex. a 24 de novembro de 2013, na solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo, com a qual será encerrado o Ano da fé) poderão conceder a Bênção Papal com a Indulgência Plenária, lucrável por parte de todos os fiéis que receberem tal Bênção de modo devoto.
Os fiéis verdadeiramente arrependidos, que não puderem participar nas celebrações solenes por motivos graves (como, em primeiro lugar, todas as monjas que vivem nos mosteiros de clausura perpétua, os anacoretas e os eremitas, os encarcerados, os idosos, os enfermos, assim como quantos, no hospital ou noutros lugares de cura, prestam serviço continuado aos doentes), obterão a Indulgência Plenária nas mesmas condições se, unidos com o espírito e o pensamento aos fiéis presentes, particularmente nos momentos em que as palavras do Sumo Pontífice ou dos Bispos diocesanos forem transmitidas pela televisão e rádio, recitarem em casa ou onde o impedimento os detiver (por ex. na capela do mosteiro, do hospital, da casa de cura, da prisão...) o Pai-Nosso, a Profissão de Fé de qualquer forma legítima e outras preces segundo as finalidades do Ano da fé, oferecendo os seus sofrimentos ou as dificuldades da sua vida.

Igreja celebra o Dia Mundial das Missões no próximo domingo

No próximo domingo, 21, a Igreja no Brasil e no mundo celebra o Dia Mundial das Missões. Trata-se de um grande acontecimento e uma oportunidade de fazer sentir a vocação missionária da Igreja. O documento Redemptoris Missio, Encíclica do papa João Paulo II sobre a validade permanente do mandato missionário, exorta, “todas as Igrejas e os pastores, os sacerdotes, os religiosos e os fiéis, a se abrirem à universalidade da Igreja, evitando toda a forma de particularismo, exclusivismo, ou qualquer sentimento de autossuficiência (RM 85)”.
Em outras palavras, o documento faz um apelo a toda a Igreja: de se abrir para Missão além-fronteiras, conforme o mandato do próprio Jesus Cristo. A Igreja “foi enviada para manifestar e comunicar a caridade de Deus a todos os homens e povos (Jo 10, 10)”, mandato que o Redemptoris Missio também frisa. “Esta Missão é única, sendo a mesma a sua origem e fim; mas, na sua dinâmica de realização, há diversas funções e atividades. Antes de tudo está a ação missionária denominada ‘missão ad gentes’”.
O Dia Mundial das Missões tem o objetivo de celebrar a unidade da Igreja através da partilha e da fraternidade. Os filhos de Deus, nesse dia, devem festejar a universalidade da Missão em colaboração intensa e espiritual de generosa ajuda. O ato do papa Pio XI na solenidade de Pentecostes de 1922 sintetiza o que deveria ser o Dia Mundial das Missões dali em diante. O pontífice interrompeu sua homilia e, em meio a impressionante silêncio, tomou seu solidéu, fazendo-o passar entre a multidão de bispos, presbíteros e fiéis na Basílica de São Pedro, no Vaticano, enquanto pedia a toda a Igreja ajuda para as Missões.
O primeiro Dia Mundial das Missões foi celebrado em 1927 e, em 19 de outubro de 1985, o papa João Paulo II lembrou a origem do Dia, falando aos fiéis da Igreja de Sassari, durante sua viagem pastoral à Sardenha. “Nunca venha a faltar o espírito missionário que animou as testemunhas de Cristo nesta cidade. Todo mundo sabe que o Dia Mundial das Missões foi sugerido em uma reunião do Círculo Missionário do seminário provincial de Sassari em 1926, então governado pelos padres vicentinos, entre os quais se destacava pelo zelo apostólico o padre Giovanni Battista Manzella”.
No Brasil, o Dia Mundial das Missões foi celebrado pela primeira vez já no começo da década de 1930, pela Pontifícia Obra da Propagação da Fé, implantada por dom Bento Aloisi Masella, então Núncio Apostólico. O próprio dom Bento presidiu a Obra até o dia 10 de Agosto de 1934, data em que passou o cargo de Presidente Nacional da Obra ao padre Dictino de La Parte, da Congregação dos Missionários Filhos do Coração Imaculado de Maria, que vinha desempenhando, com muita proficiência e resultado, o cargo de Diretor Regional da 4ª Região.
Já naquele tempo a Direção Nacional da Obra fornecia subsídios (santinhos, folhetos) e sugeria ‘palavras de ordem’ para a animação da Campanha Missionária. Em 1934 a Palavra de ordem foi: “Todos os católicos por todos os infiéis!”.
Campanha Missionária 2012
Neste ano, a Campanha Missionária aborda o tema “Brasil missionário, partilha a tua fé”, em sintonia com o 3º Congresso Missionário Nacional, que aconteceu em Palmas (TO) de 12 a 15 de julho, e com o 4º Congresso Americano Missionário e 9º Congresso Missionário Latino-Americano (CAM4/Comla9). No Dia Mundial das Missões, acontece a Coleta Nacional feita em todas as comunidades e instituições católicas. Este ano será feita no sábado e domingo, dias 20 e 21 de outubro. O valor arrecadado deve ser integralmente enviado ao Fundo Universal de Solidariedade, através das Pontifícias Obras Missionárias. Essa contribuição econômica é destinada a projetos missionários em todo o mundo, por meio da Pontifícia Obra da Propagação da Fé.
Outras informações acesse o site das Pontifícias Obras Missionárias, no endereço: www.pom.org.br.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Formação: O que é "Halloween" e o que se celebra realmente nesta data?

Significado
Halloween significa "All hallow's eve", palavra que provém do inglês antigo, e que significa "véspera de todos os santos", já que se refere de noite de 31 de outubro, véspera da Festa de Todos os Santos. Entretanto, o antigo costume anglo-saxão lhe roubou seu estrito sentido religioso para celebrar em seu lugar a noite do terror, das bruxas e dos fantasmas. Halloween marca um triste retorno ao antigo paganismo, tendência que se propagou também entre os povos espanos.

Origens
A celebração do Halloween se iniciou com os celtas, antigos habitantes da Europa Oriental, Ocidental e parte da Ásia Menor. Entre eles habitavam os druidas, sacerdotes pagãos adoradores das árvores, especialmente do carvalho. Eles acreditavam na imortalidade da alma, a qual diziam se introduzia em outro indivíduo ao abandonar o corpo; mas em 31 de outubro voltava para seu antigo lar a pedir comida a seus moradores, que estavam obrigados a fazer provisão para ela.
O ano celta concluía nesta data que coincide com o outono, cuja característica principal é a queda das folhas. Para eles significava o fim da morte ou iniciação de uma nova vida. Este ensino se propagou através dos anos junto com a adoração a seu deus o "senhor da morte", ou "Samagin", a quem neste mesmo dia invocavam para lhe consultar sobre o futuro, saúde, prosperidade, morte, entre outros.
Quando os povos celtas se cristianizaram, não todos renunciaram aos costumes pagãos. Quer dizer, a conversão não foi completa. A coincidência cronológica da festa pagã com a festa cristã de Todos os Santos e a dos defuntos, que é o dia seguinte, fizeram com que se mesclasse. Em vez de recordar os bons exemplos dos santos e orar pelos antepassados, enchia-se de medo diante das antigas superstições sobre a morte e os defuntos.
Alguns imigrantes irlandeses introduziram Halloween nos Estados Unidos aonde chegou a ser parte do folclore popular. Acrescentaram-lhe diversos elementos pagãos tirados dos diferentes grupos de imigrantes até chegar a incluir a crença em bruxas, fantasmas, duendes, drácula e monstros de toda espécie. Daí propagou-se por todo mundo.
Em 31 de outubro de noite, nos países de cultura anglo-saxã ou de herança celta, celebra-se a véspera da festa de Todos os Santos, com toda uma cenografia que antes recordava aos mortos, logo com a chegada do Cristianismo às almas do Purgatório, e que agora se converteram em uma salada mental em que não faltam crenças em bruxas, fantasmas e coisas similares.
Em troca, nos países de cultura mediterrânea, a lembrança dos defuntos e a atenção à morte se centram em 2 de novembro, o dia seguinte à celebração da ressurreição e a alegria do paraíso que espera à comunidade cristã, uma família de "Santos" como a entendia São Pablo.
Diversas tradições se unem, mesclam-se e se influem mutuamente neste começo de novembro nas culturas dos países ocidentais. Na Ásia e África, o culto aos antepassados e aos mortos tem fortes raízes, mas não está tão ligado a uma data concreta como em nossa cultura.

Abóbora, guloseimas, disfarces...
A abóbora foi acrescentada depois e tem sua origem nos países escandinavos e em seguida retornou a Europa e ao resto da América graças à colonização cultural de seus meios de comunicação e os séries e filmes importados.
Nos últimos anos, começa a fazer furor entre os adolescentes mediterrâneos e latino-americanos que esquecem suas próprias e ricas tradições para adotar a oca abóbora iluminada. No Hallowe'em (do All hallow's eve), literalmente a Véspera de Todos os Santos, a lenda anglo-saxã diz que é fácil ver bruxas e fantasmas. Os meninos se disfarçam e vão -com uma vela introduzida em uma abóbora esvaziada em que se fazem incisões para formar uma caveira- de casa em casa. Quando se abre à porta gritam: "trick or treat" (doces ou travessuras) para indicar que gastarão uma brincadeira a quem não os de uma espécie de propina em guloseimas ou dinheiro.
Uma antiga lenda irlandesa narra que a abóbora iluminada seria a cara de um tal Jack Ou'Lantern que, na noite de Todos os Santos, convidou o diabo a beber em sua casa, fingindo um bom cristão. Como era um homem dissoluto, acabou no inferno.
Com a chegada do cristianismo, enquanto nos países anglo-saxões tomava forma a procissão dos meninos disfarçados pedindo de porta em porta com a luminária em forma de caveira, nos mediterrâneos se estendiam outros costumes ligados a 1º e 2 de novembro. Em muitos povos espanhóis existe uma tradição de ir de porta em porta tocando, cantando e pedindo dinheiro para as "almas do Purgatório". Hoje em dia, embora menos que antigamente, seguem-se visitando os cemitérios, arrumam-se os túmulos com flores, recorda-se os familiares defuntos e se reza por eles; nas casas se falava da família, de todos os vivos e dos que tinham passado a outra vida e se consumiam doces especiais, que perduram para a ocasião, como na Espanha os pastéis redondos de vento ou os ossos de santo.
Enquanto isso, do outro lado do oceano e ao sul dos Estados Unidos, a tradição católica levada por espanhóis e portugueses se mesclava de acordo com cada país americano, mescla dos ritos locais pré-coloniais e com folclore do lugar.
Certamente na Galicia se unem duas tradições: a celta e a católica, por isso é esta a região da Espanha em que mais perdura a tradição da lembrança dos mortos, das almas do Purgatório, muito unidas ao folclore local, e as lendas sobre aparições e fantasmas. Em toda a Espanha perdura um costume sacrossanto que se introduziu nos hábitos culturais: a de representar nesta data alguma peça de teatro ligada ao mito de Dom Juan Tenorio. Foi precisamente este personagem, "o gozador de Sevilha ou o convidado de pedra", criado pelo frade mercedário e dramaturgo espanhol Tirso de Molina, que se atreveu a ir ao cemitério, nesta noite, para conjurar as almas de quem havia sido vítimas de sua espada ou de sua possessividade egoísta.
Em todas estas representações ritos e lembranças resiste um desejo inconsciente, pagão, de exorcizar o medo à morte, subtraindo a sua angústia. O mito antigo do retorno dos mortos converteu-se hoje em fantasmas ou dráculas com efeitos especiais nos filmes de terror.

Festividade de todos os Santos
Entretanto, para os crentes é a festa de todos os Santos a que verdadeiramente tem relevância e reflete a fé no futuro para quem espera e vivem segundo o Evangelho pregado por Jesus. O respeito aos restos mortais de quem morreu na fé e sua lembrança, inscreve-se na veneração de quem fora "templos do Espírito Santo".
Como assegura Bruno Forte, professor da Faculdade teológica de Nápoles, ao contrário de quem não acredita na dignidade pessoal e desvalorizam a vida presente acreditando em futuras reencarnações, o cristão tem "uma visão nas antípodas" já que "o valor da pessoa humana é absoluto". É alheio também ao dualismo herdeiro de Platão que separa o corpo e a alma. "Este dualismo e o conseguinte desprezo do corpo e da sexualidade não forma parte do Novo Testamento onde a pessoa depois da morte segue vivendo, pois é amada por Deus". Deus, acrescenta o teólogo, "não tem necessidade dos ossos e de um pouco de pó para nos fazer ressuscitar. Quero destacar que em uma época de "pensamento débil" em que se afirma que tudo cai sempre em um nada, é significativo afirmar a dignidade do fragmento que é cada vida humana e seu destino eterno".
A festa de Todos os Fiéis Defuntos foi instituída por São Odilon, monge beneditino e quinto Abade de Cluny na França em 31 de outubro do ano 998. Ao cumprir o milenário desta festividade, o Papa João Paulo II recordou que "São Odilon desejou exortar a seus monges a rezar de modo especial pelos defuntos. A partir do Abade de Cluny começou a estender o costume de interceder solenemente pelos defuntos, e chegou a converter-se no que São Odilon chamou de Festa dos Mortos, prática ainda hoje em vigor na Igreja universal".
"Ao rezar pelos mortos -diz o Santo Padre-, a Igreja contempla sobre tudo o mistério da Ressurreição de Cristo que por sua Cruz nos dá a salvação e a vida eterna. A Igreja espera na salvação eterna de todos seus filhos e de todos os homens".
Depois de destacar a importância das orações pelos defuntos, o Pontífice afirma que as "orações de intercessão e de súplica que a Igreja não cessa de dirigir a Deus têm um grande valor. O Senhor sempre se comove pelas súplicas de seus filhos, porque é Deus de vivos. A Igreja acredita que as almas do purgatório "são ajudadas pela intercessão dos fiéis, e sobre tudo, pelo sacrifício proporcionado no altar", assim como "pela caridade e outras obras de piedade".
Por essa razão, o Papa pede aos católicos "para rezar com ardor pelos defuntos, por suas famílias e por todos nossos irmãos e irmãs que faleceram, para que recebam a remissão das penas devidas a seus pecados e escutem o chamado do Senhor".

Cultura e negócio do terror
Uma cultura de consumo que propícia e aproveita as oportunidades para fazer negócios, sem importar como. Hollywood contribuiu à difusão do Halloween com uma série de filmes nas quais a violência gráfica e os assassinatos criam no espectador um estado mórbido de angústia e ansiedade. Estes filmes são vistos por adultos e crianças, criando nestes últimos, medo e uma idéia errônea da realidade. O Halloween hoje é, sobre tudo, um grande negócio. Máscaras, disfarces, doces, maquiagem e demais artigos necessários são um motor mais que suficiente para que alguns empresários fomentem o "consumo do terror". Busca-se, além disso, favorecer a imitação dos costumes norte-americanos por considerar-se que isto está bem porque este país é “superior”.

Pensando a partir da fé
Uma proposta de temas para considerar atentamente nossa fé católica e a atitude que devemos tomar ante o halloween.
Diante de todos estes elementos que compõem hoje o Halloween, vale a pena refletir e fazer as seguintes perguntas:
É que, contanto que se divirtam, podemos aceitar que as crianças ao visitar as casas dos vizinhos, exijam doces em troca de não lhes fazer algum dano (danificar muros, quebrar ovos nas portas, etc.)? Com relação à conduta dos demais pode ser lido o critério de Nosso Senhor Jesus Cristo em Lc 6,31.
Que experiência (moral ou religiosa) fica na criança que para "se divertir" usando disfarces de diabos, bruxas, mortos, monstros, vampiros e demais personagens relacionados principalmente com o mal e o ocultismo, sobre tudo quando a televisão e o cinema identificam estes disfarces com personagens contrários à moral sã, à fé e aos valores do Evangelho.? Vejamos o que diz Nosso Senhor Jesus Cristo do mal e o mau em Mt 7,17. Mt 6,13. A Palavra de Deus nos fala disto também em 1ª Pe 3, 8-12.
Como podemos justificar como pais de uma família cristã a nossos filhos, que o dia do Halloween façam mal às propriedades alheias? Não seríamos totalmente incoerentes com a educação que viemos propondo na qual se deve respeitar a outros e que as travessuras ou maldades não são boas? Não seria isto aceitar que, pelo menos, uma vez ao ano se pode fazer o mal ao próximo? O que nos ensina Nosso Senhor Jesus Cristo sobre o próximo? Leiamos Mt 22, 37-40
Com os disfarces e a identificação que existe com os personagens do cinema... Não estamos promovendo na consciência dos pequenos o mal e o demônio são apenas fantasias, um mundo irreal que nada tem que ver com nossas vidas e que, portanto não nos afetam? A Palavra de Deus afirma a existência do diabo, do inimigo de Deus em Tia 4,7  1ª Pe 5,18  Ef 6,11  Lc 4,2  Lc 25, 41
Que experiência religiosa ou moral fica depois da festa de halloween?
Não é Halloween outra forma de relativismo religioso com a qual vamos permitindo que nossa fé e nossa vida cristãs se vejam debilitadas?
Se aceitarmos todas estas idéias e tomamos palavras levianas em "altares de diversão de crianças". O que diremos aos jovens (a quem durante sua infância lhes permitimos brincar o Halloween) quando forem aos bruxos, feiticeiros, médiuns, e os que lêem as cartas e todas essas atividades contrárias ao que nos ensina a Bíblia?
É que nós, como cristãos, mensageiros da paz, o amor, a justiça, portadores da luz para o mundo, podemos nos identificar com uma atividade aonde todos seus elementos falam de temor, injustiça, medo e escuridão? Sobre o tema da paz podemos ler Fil 4,9  Gál 5,22. Ver o que diz Jesus sobre isto em Mt 5,14  Jo 8,12
Se formos sinceros conosco mesmos e procurarmos sermos fiéis aos valores da Igreja Católica, chegaremos à conclusão de que o halloween não tem nada que ver com nossa lembrança cristã dos Fiéis Defuntos, e que todas suas conotações são nocivas e contrárias aos princípios elementares de nossa fé.

Sugestões para os pais de família
Como lhe dar aos filhos um ensino autêntico da fé católica nestas datas? Como fazer que se divirtam com um propósito verdadeiramente católico e cristão? O que podemos ensinar às crianças sobre esta festa?
Ante a realidade que alaga nosso meio e que é promovida sem medida pelo consumismo nos perguntamos o que fazer? Fechar os olhos para não ver a realidade? Procurar boas desculpas para justificar sua presença e não dar maior importância a esta "brincadeira"? Devemos proibir a nossos filhos de participar do halloween enquanto que seus vizinhos e amigos se "divertem"? Seriam capazes as crianças de entender todos os perigos que correm e por que de nossa negação a participar disto?
A resposta não é simples, entretanto acreditam que sim há algumas coisas que podemos fazer:
O primeiro é organizar uma catequese com os meninos nos dias anteriores ao halloween, com o propósito de ensinar o por que da festividade católica de Todos os Santos e os Fiéis Defuntos, fazendo ver a importância de celebrar nossos Santos, como modelos da fé, como verdadeiros seguidores de Cristo.
Nas catequeses e atividades prévias a estas datas, é boa idéia que nossos filhos convidem a seus amigos, para que se atenue o impacto de rechaço social e seus companheiros entendam por que não participam da mesma forma que todo mundo.
Devemos lhes explicar de maneira simples e clara, mas firme, quão negativo há no Halloween e a maneira em que se festeja. É necessário lhes explicar que Deus quer que sejamos bons e que não nos identifiquemos nem com as bruxas nem com os monstros, pois nós somos filhos de Deus.
Propomos aos pais de família uma opção para seus filhos, pois certamente as crianças irão querer sair com seus amigos na noite do Halloween: As crianças podem disfarçar-se de anjos e preparar pequenas bolsas com doces, presentes ou cartões com mensagens e passar de casa em casa, e em lugar de fazer o "doces ou travessuras" ou de pedir doces, dar de presente aos lares que visitem e que expliquem que entregam doces porque a Igreja Católica terá muito em breve uma festa muito importante em que se celebra a todos aqueles que foram como nós deveríamos ser: os Santos.
Embora esta mudança não será simples para as crianças, é necessário viver coerentemente com nossa fé, e não permitir que os menores tomem como algo natural a conotação negativa do halloween. Com valor e sentido cristão, os católicos podem dar a estas datas, o significado que têm no marco de nossa fé.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Conversando com os Pais, por Lila Rosana

O pai como referência masculina

O pai é a primeira figura masculina com a qual a menina tem contato, com isso ser pai de menina é uma tarefa de muita importância. No futuro, o pai irá funcionar como um modelo, uma referência e, todos os demais homens que cruzarem a vida da filha, serão inevitavelmente comparados ao pai.  Se a relação entre pai e filha é boa e positivamente intensa, isso poderá ajudar a menina a encontrar um homem de boas qualidades.

Ser pai é amar incondicionalmente

As meninas geralmente tem admiração pelo pai, gostam de se adaptar a eles e de agradá-los.  Agradar ao pai é um desejo de ser amada e aceita por ele. Como pai, você deve ajudar a sua filha a desenvolver uma identidade própria, ajudá-la a perceber que não precisa se adaptar ou agradar a um homem para que ele a ame. O pai deve mostrar o amor incondicional pela filha e, o melhor momento para fazê-lo é quando ela não faz o que ele deseja. A filha que não teve a experiência de ser amada incondicionalmente pelo pai pode desenvolver um sentimento de baixa autoestima e de insegurança. Ela acredita que o pai não a ama porque ela é má ou não faz nada certo.

Cuidado com o autoritarismo

Ser autoritário pode passar a mensagem para a sua filha que ela tem que se submeter aos homens. Avalie se você precisa ser autoritário sempre, pois deixar algumas decisões nas mãos da filha poderá ajudá-la a amadurecer e a assumir as consequências pelas decisões equivocadas.

Permissividade

Se você faz tudo o que a sua filha quer, você será o queridinho dela, mas isso tem um preço alto: ela poderá desenvolver a manipulação. Com jeitinho e dengo, ela pode conseguir tudo do papai, então ela aprenderá que é assim que se relaciona com os homens e pessoas em geral. Seja permissivo, mas deixe claro que existem regras e limites os quais ela não poderá ultrapassar.
Tratar a sua filha com respeito, confiança e amor, fará dela uma mulher segura e hábil para se relacionar não apenas com os homens, mas com todos ao seu redor.

fonte:http://www.jangadeiroonline.com.br/blogs/lila-rosana/relacionamento/relacionamento-entre-pais-e-filhas/trackback/

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Ano da Fé iniciará dia 11 de outubro.

 CARTA APOSTÓLICA

SOB FORMA DE MOTU PROPRIO

PORTA FIDEI

DO SUMO PONTÍFICE

BENTO XVI

COM A QUAL SE PROCLAMA O ANO DA FÉ

1. A PORTA DA FÉ (cf. Act 14, 27), que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja, está sempre aberta para nós. É possível cruzar este limiar, quando a Palavra de Deus é anunciada e o coração se deixa plasmar pela graça que transforma. Atravessar esta porta implica embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira. Este caminho tem início no Baptismo (cf. Rm 6, 4), pelo qual podemos dirigir-nos a Deus com o nome de Pai, e está concluído com a passagem através da morte para a vida eterna, fruto da ressurreição do Senhor Jesus, que, com o dom do Espírito Santo, quis fazer participantes da sua própria glória quantos crêem n’Ele (cf. Jo 17, 22). Professar a fé na Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo – equivale a crer num só Deus que é Amor (cf. 1 Jo 4, 8): o Pai, que na plenitude dos tempos enviou seu Filho para a nossa salvação; Jesus Cristo, que redimiu o mundo no mistério da sua morte e ressurreição; o Espírito Santo, que guia a Igreja através dos séculos enquanto aguarda o regresso glorioso do Senhor.
2. Desde o princípio do meu ministério como Sucessor de Pedro, lembrei a necessidade de redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo. Durante a homilia da Santa Missa no início do pontificado, disse: «A Igreja no seu conjunto, e os Pastores nela, como Cristo devem pôr-se a caminho para conduzir os homens fora do deserto, para lugares da vida, da amizade com o Filho de Deus, para Aquele que dá a vida, a vida em plenitude»[1]. Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida diária. Ora um tal pressuposto não só deixou de existir, mas frequentemente acaba até negado.[2] Enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes sectores da sociedade devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas.
3. Não podemos aceitar que o sal se torne insípido e a luz fique escondida (cf. Mt 5, 13-16). Também o homem contemporâneo pode sentir de novo a necessidade de ir como a samaritana ao poço, para ouvir Jesus que convida a crer n’Ele e a beber na sua fonte, donde jorra água viva (cf.Jo 4, 14). Devemos readquirir o gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus, transmitida fielmente pela Igreja, e do Pão da vida, oferecidos como sustento de quantos são seus discípulos (cf. Jo 6, 51). De facto, em nossos dias ressoa ainda, com a mesma força, este ensinamento de Jesus: «Trabalhai, não pelo alimento que desaparece, mas pelo alimento que perdura e dá a vida eterna» (Jo 6, 27). E a questão, então posta por aqueles que O escutavam, é a mesma que colocamos nós também hoje: «Que havemos nós de fazer para realizar as obras de Deus?» (Jo 6, 28). Conhecemos a resposta de Jesus: «A obra de Deus é esta: crer n’Aquele que Ele enviou» (Jo6, 29). Por isso, crer em Jesus Cristo é o caminho para se poder chegar definitivamente à salvação.
4. À luz de tudo isto, decidi proclamar um Ano da Fé. Este terá início a 11 de Outubro de 2012, no cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, e terminará na Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, a 24 de Novembro de 2013. Na referida data de 11 de Outubro de 2012, completar-se-ão também vinte anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica, texto promulgado pelo meu Predecessor, o Beato Papa João Paulo II,[3] com o objectivo de ilustrar a todos os fiéis a força e a beleza da fé. Esta obra, verdadeiro fruto do Concílio Vaticano II, foi desejada pelo Sínodo Extraordinário dos Bispos de 1985 como instrumento ao serviço da catequese[4] e foi realizado com a colaboração de todo o episcopado da Igreja Católica. E uma Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos foi convocada por mim, precisamente para o mês de Outubro de 2012, tendo por tema A nova evangelização para a transmissão da fé cristã. Será uma ocasião propícia para introduzir o complexo eclesial inteiro num tempo de particular reflexão e redescoberta da fé. Não é a primeira vez que a Igreja é chamada a celebrar um Ano da Fé. O meu venerado Predecessor, o Servo de Deus Paulo VI, proclamou um ano semelhante, em 1967, para comemorar o martírio dos apóstolos Pedro e Paulo no décimo nono centenário do seu supremo testemunho. Idealizou-o como um momento solene, para que houvesse, em toda a Igreja, «uma autêntica e sincera profissão da mesma fé»; quis ainda que esta fosse confirmada de maneira «individual e colectiva, livre e consciente, interior e exterior, humilde e franca».[5] Pensava que a Igreja poderia assim retomar «exacta consciência da sua fé para a reavivar, purificar, confirmar, confessar».[6] As grandes convulsões, que se verificaram naquele Ano, tornaram ainda mais evidente a necessidade duma tal celebração. Esta terminou com a Profissão de Fé do Povo de Deus,[7] para atestar como os conteúdos essenciais, que há séculos constituem o património de todos os crentes, necessitam de ser confirmados, compreendidos e aprofundados de maneira sempre nova para se dar testemunho coerente deles em condições históricas diversas das do passado.
5. Sob alguns aspectos, o meu venerado Predecessor viu este Ano como uma «consequência e exigência pós-conciliar»[8], bem ciente das graves dificuldades daquele tempo sobretudo no que se referia à profissão da verdadeira fé e da sua recta interpretação. Pareceu-me que fazer coincidir o início do Ano da Fé com o cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II poderia ser uma ocasião propícia para compreender que os textos deixados em herança pelos Padres Conciliares, segundo as palavras do Beato João Paulo II, «não perdem o seu valor nem a sua beleza. É necessário fazê-los ler de forma tal que possam ser conhecidos e assimilados como textos qualificados e normativos do Magistério, no âmbito da Tradição da Igreja. Sinto hoje ainda mais intensamente o dever de indicar o Concílio como a grande graça de que beneficiou a Igreja no século XX: nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do século que começa».[9] Quero aqui repetir com veemência as palavras que disse a propósito do Concílio poucos meses depois da minha eleição para Sucessor de Pedro: «Se o lermos e recebermos guiados por uma justa hermenêutica, o Concílio pode ser e tornar-se cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da Igreja».[10]
6. A renovação da Igreja realiza-se também através do testemunho prestado pela vida dos crentes: de facto, os cristãos são chamados a fazer brilhar, com a sua própria vida no mundo, a Palavra de verdade que o Senhor Jesus nos deixou. O próprio Concílio, na Constituição dogmática Lumen gentium, afirma: «Enquanto Cristo “santo, inocente, imaculado” (Heb 7, 26), não conheceu o pecado (cf. 2 Cor 5, 21), mas veio apenas expiar os pecados do povo (cf. Heb 2, 17), a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação. A Igreja “prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus”, anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha (cf. 1 Cor 11, 26). Mas é robustecida pela força do Senhor ressuscitado, de modo a vencer, pela paciência e pela caridade, as suas aflições e dificuldades tanto internas como externas, e a revelar, velada mas fielmente, o seu mistério, até que por fim se manifeste em plena luz».[11]
Nesta perspectiva, o Ano da Fé é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo. No mistério da sua morte e ressurreição, Deus revelou plenamente o Amor que salva e chama os homens à conversão de vida por meio da remissão dos pecados (cf.Act 5, 31). Para o apóstolo Paulo, este amor introduz o homem numa vida nova: «Pelo Baptismo fomos sepultados com Ele na morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova» (Rm 6, 4). Em virtude da fé, esta vida nova plasma toda a existência humana segundo a novidade radical da ressurreição. Na medida da sua livre disponibilidade, os pensamentos e os afectos, a mentalidade e o comportamento do homem vão sendo pouco a pouco purificados e transformados, ao longo de um itinerário jamais completamente terminado nesta vida. A «fé, que actua pelo amor» (Gl 5, 6), torna-se um novo critério de entendimento e de acção, que muda toda a vida do homem (cf. Rm 12, 2; Cl 3, 9-10;Ef 4, 20-29; 2 Cor 5, 17).
7. «Caritas Christi urget nos – o amor de Cristo nos impele» (2 Cor 5, 14): é o amor de Cristo que enche os nossos corações e nos impele a evangelizar. Hoje, como outrora, Ele envia-nos pelas estradas do mundo para proclamar o seu Evangelho a todos os povos da terra (cf. Mt 28, 19). Com o seu amor, Jesus Cristo atrai a Si os homens de cada geração: em todo o tempo, Ele convoca a Igreja confiando-lhe o anúncio do Evangelho, com um mandato que é sempre novo. Por isso, também hoje é necessário um empenho eclesial mais convicto a favor duma nova evangelização, para descobrir de novo a alegria de crer e reencontrar o entusiasmo de comunicar a fé. Na descoberta diária do seu amor, ganha força e vigor o compromisso missionário dos crentes, que jamais pode faltar. Com efeito, a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria. A fé torna-nos fecundos, porque alarga o coração com a esperança e permite oferecer um testemunho que é capaz de gerar: de facto, abre o coração e a mente dos ouvintes para acolherem o convite do Senhor a aderir à sua Palavra a fim de se tornarem seus discípulos. Os crentes – atesta Santo Agostinho – «fortificam-se acreditando».[12] O Santo Bispo de Hipona tinha boas razões para falar assim. Como sabemos, a sua vida foi uma busca contínua da beleza da fé enquanto o seu coração não encontrou descanso em Deus.[13] Os seus numerosos escritos, onde se explica a importância de crer e a verdade da fé, permaneceram até aos nossos dias como um património de riqueza incomparável e consentem ainda que tantas pessoas à procura de Deus encontrem o justo percurso para chegar à «porta da fé».
Por conseguinte, só acreditando é que a fé cresce e se revigora; não há outra possibilidade de adquirir certeza sobre a própria vida, senão abandonar-se progressivamente nas mãos de um amor que se experimenta cada vez maior porque tem a sua origem em Deus.
8. Nesta feliz ocorrência, pretendo convidar os Irmãos Bispos de todo o mundo para que se unam ao Sucessor de Pedro, no tempo de graça espiritual que o Senhor nos oferece, a fim de comemorar o dom precioso da fé. Queremos celebrar este Ano de forma digna e fecunda. Deverá intensificar-se a reflexão sobre a fé, para ajudar todos os crentes em Cristo a tornarem mais consciente e revigorarem a sua adesão ao Evangelho, sobretudo num momento de profunda mudança como este que a humanidade está a viver. Teremos oportunidade de confessar a fé no Senhor Ressuscitado nas nossas catedrais e nas igrejas do mundo inteiro, nas nossas casas e no meio das nossas famílias, para que cada um sinta fortemente a exigência de conhecer melhor e de transmitir às gerações futuras a fé de sempre. Neste Ano, tanto as comunidades religiosas como as comunidades paroquiais e todas as realidades eclesiais, antigas e novas, encontrarão forma de fazer publicamente profissão do Credo.
9. Desejamos que este Ano suscite, em cada crente, o anseio de confessar a fé plenamente e com renovada convicção, com confiança e esperança. Será uma ocasião propícia também para intensificar a celebração da fé na liturgia, particularmente na Eucaristia, que é «a meta para a qual se encaminha a acção da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força».[14] Simultaneamente esperamos que o testemunho de vida dos crentes cresça na sua credibilidade. Descobrir novamente os conteúdos da fé professada, celebrada, vivida e rezada[15] e reflectir sobre o próprio acto com que se crê, é um compromisso que cada crente deve assumir, sobretudo nesteAno.
Não foi sem razão que, nos primeiros séculos, os cristãos eram obrigados a aprender de memória o Credo. É que este servia-lhes de oração diária, para não esquecerem o compromisso assumido com o Baptismo. Recorda-o, com palavras densas de significado, Santo Agostinho quando afirma numa homilia sobre a redditio symboli (a entrega do Credo): «O símbolo do santo mistério, que recebestes todos juntos e que hoje proferistes um a um, reúne as palavras sobre as quais está edificada com solidez a fé da Igreja, nossa Mãe, apoiada no alicerce seguro que é Cristo Senhor. E vós recebeste-lo e proferiste-lo, mas deveis tê-lo sempre presente na mente e no coração, deveis repeti-lo nos vossos leitos, pensar nele nas praças e não o esquecer durante as refeições; e, mesmo quando o corpo dorme, o vosso coração continue de vigília por ele».[16]
10. Queria agora delinear um percurso que ajude a compreender de maneira mais profunda os conteúdos da fé e, juntamente com eles, também o acto pelo qual decidimos, com plena liberdade, entregar-nos totalmente a Deus. De facto, existe uma unidade profunda entre o acto com que se crê e os conteúdos a que damos o nosso assentimento. O apóstolo Paulo permite entrar dentro desta realidade quando escreve: «Acredita-se com o coração e, com a boca, faz-se a profissão de fé» (Rm 10, 10). O coração indica que o primeiro acto, pelo qual se chega à fé, é dom de Deus e acção da graça que age e transforma a pessoa até ao mais íntimo dela mesma.
A este respeito é muito eloquente o exemplo de Lídia. Narra São Lucas que o apóstolo Paulo, encontrando-se em Filipos, num sábado foi anunciar o Evangelho a algumas mulheres; entre elas, estava Lídia. «O Senhor abriu-lhe o coração para aderir ao que Paulo dizia» (Act 16, 14). O sentido contido na expressão é importante. São Lucas ensina que o conhecimento dos conteúdos que se deve acreditar não é suficiente, se depois o coração – autêntico sacrário da pessoa – não for aberto pela graça, que consente ter olhos para ver em profundidade e compreender que o que foi anunciado é a Palavra de Deus.
Por sua vez, o professar com a boca indica que a fé implica um testemunho e um compromisso públicos. O cristão não pode jamais pensar que o crer seja um facto privado. A fé é decidir estar com o Senhor, para viver com Ele. E este «estar com Ele» introduz na compreensão das razões pelas quais se acredita. A fé, precisamente porque é um acto da liberdade, exige também assumir a responsabilidade social daquilo que se acredita. No dia de Pentecostes, a Igreja manifesta, com toda a clareza, esta dimensão pública do crer e do anunciar sem temor a própria fé a toda a gente. É o dom do Espírito Santo que prepara para a missão e fortalece o nosso testemunho, tornando-o franco e corajoso.
A própria profissão da fé é um acto simultaneamente pessoal e comunitário. De facto, o primeiro sujeito da fé é a Igreja. É na fé da comunidade cristã que cada um recebe o Baptismo, sinal eficaz da entrada no povo dos crentes para obter a salvação. Como atesta o Catecismo da Igreja Católica, «“Eu creio”: é a fé da Igreja, professada pessoalmente por cada crente, principalmente por ocasião do Baptismo. “Nós cremos”: é a fé da Igreja, confessada pelos bispos reunidos em Concílio ou, de modo mais geral, pela assembleia litúrgica dos crentes. “Eu creio”: é também a Igreja, nossa Mãe, que responde a Deus pela sua fé e nos ensina a dizer: “Eu creio”, “Nós cremos”».[17]
Como se pode notar, o conhecimento dos conteúdos de fé é essencial para se dar o próprioassentimento, isto é, para aderir plenamente com a inteligência e a vontade a quanto é proposto pela Igreja. O conhecimento da fé introduz na totalidade do mistério salvífico revelado por Deus. Por isso, o assentimento prestado implica que, quando se acredita, se aceita livremente todo o mistério da fé, porque o garante da sua verdade é o próprio Deus, que Se revela e permite conhecer o seu mistério de amor.[18]
Por outro lado, não podemos esquecer que, no nosso contexto cultural, há muitas pessoas que, embora não reconhecendo em si mesmas o dom da fé, todavia vivem uma busca sincera do sentido último e da verdade definitiva acerca da sua existência e do mundo. Esta busca é um verdadeiro «preâmbulo» da fé, porque move as pessoas pela estrada que conduz ao mistério de Deus. De facto, a própria razão do homem traz inscrita em si mesma a exigência «daquilo que vale e permanece sempre».[19] Esta exigência constitui um convite permanente, inscrito indelevelmente no coração humano, para caminhar ao encontro d’Aquele que não teríamos procurado se Ele mesmo não tivesse já vindo ao nosso encontro.[20] É precisamente a este encontro que nos convida e abre plenamente a fé.
11. Para chegar a um conhecimento sistemático da fé, todos podem encontrar um subsídio precioso e indispensável no Catecismo da Igreja Católica. Este constitui um dos frutos mais importantes do Concílio Vaticano II. Na Constituição apostólica Fidei depositum – não sem razão assinada na passagem do trigésimo aniversário da abertura do Concílio Vaticano II – o Beato João Paulo II escrevia: «Este catecismo dará um contributo muito importante à obra de renovação de toda a vida eclesial (…). Declaro-o norma segura para o ensino da fé e, por isso, instrumento válido e legítimo ao serviço da comunhão eclesial».[21]
É precisamente nesta linha que o Ano da Fé deverá exprimir um esforço generalizado em prol da redescoberta e do estudo dos conteúdos fundamentais da fé, que têm no Catecismo da Igreja Católica a sua síntese sistemática e orgânica. Nele, de facto, sobressai a riqueza de doutrina que a Igreja acolheu, guardou e ofereceu durante os seus dois mil anos de história. Desde a Sagrada Escritura aos Padres da Igreja, desde os Mestres de teologia aos Santos que atravessaram os séculos, o Catecismo oferece uma memória permanente dos inúmeros modos em que a Igreja meditou sobre a fé e progrediu na doutrina para dar certeza aos crentes na sua vida de fé.
Na sua própria estrutura, o Catecismo da Igreja Católica apresenta o desenvolvimento da fé até chegar aos grandes temas da vida diária. Repassando as páginas, descobre-se que o que ali se apresenta não é uma teoria, mas o encontro com uma Pessoa que vive na Igreja. Na verdade, a seguir à profissão de fé, vem a explicação da vida sacramental, na qual Cristo está presente e operante, continuando a construir a sua Igreja. Sem a liturgia e os sacramentos, a profissão de fé não seria eficaz, porque faltaria a graça que sustenta o testemunho dos cristãos. Na mesma linha, a doutrina do Catecismo sobre a vida moral adquire todo o seu significado, se for colocada em relação com a fé, a liturgia e a oração.
12. Assim, no Ano em questão, o Catecismo da Igreja Católica poderá ser um verdadeiro instrumento de apoio da fé, sobretudo para quantos têm a peito a formação dos cristãos, tão determinante no nosso contexto cultural. Com tal finalidade, convidei a Congregação para a Doutrina da Fé a redigir, de comum acordo com os competentes Organismos da Santa Sé, umaNota, através da qual se ofereçam à Igreja e aos crentes algumas indicações para viver, nos moldes mais eficazes e apropriados, este Ano da Fé ao serviço do crer e do evangelizar.
De facto, em nossos dias mais do que no passado, a fé vê-se sujeita a uma série de interrogativos, que provêm duma diversa mentalidade que, hoje de uma forma particular, reduz o âmbito das certezas racionais ao das conquistas científicas e tecnológicas. Mas, a Igreja nunca teve medo de mostrar que não é possível haver qualquer conflito entre fé e ciência autêntica, porque ambas, embora por caminhos diferentes, tendem para a verdade.[22]
13. Será decisivo repassar, durante este Ano, a história da nossa fé, que faz ver o mistério insondável da santidade entrelaçada com o pecado. Enquanto a primeira põe em evidência a grande contribuição que homens e mulheres prestaram para o crescimento e o progresso da comunidade com o testemunho da sua vida, o segundo deve provocar em todos uma sincera e contínua obra de conversão para experimentar a misericórdia do Pai, que vem ao encontro de todos.
Ao longo deste tempo, manteremos o olhar fixo sobre Jesus Cristo, «autor e consumador da fé» (Heb 12, 2): n’Ele encontra plena realização toda a ânsia e anélito do coração humano. A alegria do amor, a resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do perdão face à ofensa recebida e a vitória da vida sobre o vazio da morte, tudo isto encontra plena realização no mistério da sua Encarnação, do seu fazer-Se homem, do partilhar connosco a fragilidade humana para a transformar com a força da sua ressurreição. N’Ele, morto e ressuscitado para a nossa salvação, encontram plena luz os exemplos de fé que marcaram estes dois mil anos da nossa história de salvação.
Pela fé, Maria acolheu a palavra do Anjo e acreditou no anúncio de que seria Mãe de Deus na obediência da sua dedicação (cf. Lc 1, 38). Ao visitar Isabel, elevou o seu cântico de louvor ao Altíssimo pelas maravilhas que realizava em quantos a Ele se confiavam (cf. Lc 1, 46-55). Com alegria e trepidação, deu à luz o seu Filho unigénito, mantendo intacta a sua virgindade (cf. Lc 2, 6-7). Confiando em José, seu Esposo, levou Jesus para o Egipto a fim de O salvar da perseguição de Herodes (cf. Mt 2, 13-15). Com a mesma fé, seguiu o Senhor na sua pregação e permaneceu a seu lado mesmo no Gólgota (cf. Jo 19, 25-27). Com fé, Maria saboreou os frutos da ressurreição de Jesus e, conservando no coração a memória de tudo (cf. Lc 2, 19.51), transmitiu-a aos Doze reunidos com Ela no Cenáculo para receberem o Espírito Santo (cf. Act 1, 14; 2, 1-4).
Pela fé, os Apóstolos deixaram tudo para seguir o Mestre (cf. Mc 10, 28). Acreditaram nas palavras com que Ele anunciava o Reino de Deus presente e realizado na sua Pessoa (cf. Lc 11, 20). Viveram em comunhão de vida com Jesus, que os instruía com a sua doutrina, deixando-lhes uma nova regra de vida pela qual haveriam de ser reconhecidos como seus discípulos depois da morte d’Ele (cf. Jo 13, 34-35). Pela fé, foram pelo mundo inteiro, obedecendo ao mandato de levar o Evangelho a toda a criatura (cf. Mc 16, 15) e, sem temor algum, anunciaram a todos a alegria da ressurreição, de que foram fiéis testemunhas.
Pela fé, os discípulos formaram a primeira comunidade reunida à volta do ensino dos Apóstolos, na oração, na celebração da Eucaristia, pondo em comum aquilo que possuíam para acudir às necessidades dos irmãos (cf. Act 2, 42-47).
Pela fé, os mártires deram a sua vida para testemunhar a verdade do Evangelho que os transformara, tornando-os capazes de chegar até ao dom maior do amor com o perdão dos seus próprios perseguidores.
Pela fé, homens e mulheres consagraram a sua vida a Cristo, deixando tudo para viver em simplicidade evangélica a obediência, a pobreza e a castidade, sinais concretos de quem aguarda o Senhor, que não tarda a vir. Pela fé, muitos cristãos se fizeram promotores de uma acção em prol da justiça, para tornar palpável a palavra do Senhor, que veio anunciar a libertação da opressão e um ano de graça para todos (cf. Lc 4, 18-19).
Pela fé, no decurso dos séculos, homens e mulheres de todas as idades, cujo nome está escrito no Livro da vida (cf. Ap 7, 9; 13, 8), confessaram a beleza de seguir o Senhor Jesus nos lugares onde eram chamados a dar testemunho do seu ser cristão: na família, na profissão, na vida pública, no exercício dos carismas e ministérios a que foram chamados.
Pela fé, vivemos também nós, reconhecendo o Senhor Jesus vivo e presente na nossa vida e na história.
14. O Ano da Fé será uma ocasião propícia também para intensificar o testemunho da caridade. Recorda São Paulo: «Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade» (1 Cor 13, 13). Com palavras ainda mais incisivas – que não cessam de empenhar os cristãos –, afirmava o apóstolo Tiago: «De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser: “Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome”, mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta. Mais ainda! Poderá alguém alegar sensatamente: “Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me então a tua fé sem obras, que eu, pelas minhas obras, te mostrarei a minha fé”» (Tg 2, 14-18).
A fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma consente à outra realizar o seu caminho. De facto, não poucos cristãos dedicam amorosamente a sua vida a quem vive sozinho, marginalizado ou excluído, considerando-o como o primeiro a quem atender e o mais importante a socorrer, porque é precisamente nele que se espelha o próprio rosto de Cristo. Em virtude da fé, podemos reconhecer naqueles que pedem o nosso amor o rosto do Senhor ressuscitado. «Sempre que fizestes isto a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40): estas palavras de Jesus são uma advertência que não se deve esquecer e um convite perene a devolvermos aquele amor com que Ele cuida de nós. É a fé que permite reconhecer Cristo, e é o seu próprio amor que impele a socorrê-Lo sempre que Se faz próximo nosso no caminho da vida. Sustentados pela fé, olhamos com esperança o nosso serviço no mundo, aguardando «novos céus e uma nova terra, onde habite a justiça» (2 Ped 3, 13; cf. Ap 21, 1).
15. Já no termo da sua vida, o apóstolo Paulo pede ao discípulo Timóteo que «procure a fé» (cf. 2 Tm 2, 22) com a mesma constância de quando era novo (cf. 2 Tm 3, 15). Sintamos este convite dirigido a cada um de nós, para que ninguém se torne indolente na fé. Esta é companheira de vida, que permite perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que Deus realiza por nós. Solícita a identificar os sinais dos tempos no hoje da história, a fé obriga cada um de nós a tornar-se sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo. Aquilo de que o mundo tem hoje particular necessidade é o testemunho credível de quantos, iluminados na mente e no coração pela Palavra do Senhor, são capazes de abrir o coração e a mente de muitos outros ao desejo de Deus e da vida verdadeira, aquela que não tem fim.
Que «a Palavra do Senhor avance e seja glorificada» (2 Ts 3, 1)! Possa este Ano da Fé tornar cada vez mais firme a relação com Cristo Senhor, dado que só n’Ele temos a certeza para olhar o futuro e a garantia dum amor autêntico e duradouro. As seguintes palavras do apóstolo Pedro lançam um último jorro de luz sobre a fé: «É por isso que exultais de alegria, se bem que, por algum tempo, tenhais de andar aflitos por diversas provações; deste modo, a qualidade genuína da vossa fé – muito mais preciosa do que o ouro perecível, por certo também provado pelo fogo – será achada digna de louvor, de glória e de honra, na altura da manifestação de Jesus Cristo. Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, credes n’Ele e vos alegrais com uma alegria indescritível e irradiante, alcançando assim a meta da vossa fé: a salvação das almas» (1 Ped 1, 6-9). A vida dos cristãos conhece a experiência da alegria e a do sofrimento. Quantos Santos viveram na solidão! Quantos crentes, mesmo em nossos dias, provados pelo silêncio de Deus, cuja voz consoladora queriam ouvir! As provas da vida, ao mesmo tempo que permitem compreender o mistério da Cruz e participar nos sofrimentos de Cristo (cf. Cl 1, 24) , são prelúdio da alegria e da esperança a que a fé conduz: «Quando sou fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12, 10). Com firme certeza, acreditamos que o Senhor Jesus derrotou o mal e a morte. Com esta confiança segura, confiamo-nos a Ele: Ele, presente no meio de nós, vence o poder do maligno (cf. Lc 11, 20); e a Igreja, comunidade visível da sua misericórdia, permanece n’Ele como sinal da reconciliação definitiva com o Pai.
À Mãe de Deus, proclamada «feliz porque acreditou» (cf. Lc 1, 45), confiamos este tempo de graça.
Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 11 de Outubro do ano 2011, sétimo de Pontificado.
BENEDICTUS PP. XVI

[1] Homilia no início do ministério petrino do Bispo de Roma (24 de Abril de 2005): AAS 97 (2005), 710.
[2] Cf. Bento XVI, Homilia da Santa Missa no Terreiro do Paço (Lisboa – 11 de Maio de 2010): L’Osservatore Romano (ed. port. de 15/V/2010), 3.
[3] Cf. João Paulo II, Const. ap. Fidei depositum (11 de Outubro de 1992): AAS 86 (1994), 113-118.
[4] Cf. Relação final do Sínodo Extraordinário dos Bispos (7 de Dezembro de 1985), II, B, a, 4: L’Osservatore Romano (ed. port. de 22/XII/1985), 650.
[5] Paulo VI, Exort. ap. Petrum et Paulum Apostolos, no XIX centenário do martírio dos Apóstolos São Pedro e São Paulo (22 de Fevereiro de 1967): AAS 59 (1967), 196.
[6] Ibid.o.c., 198.
[8] Paulo VI, Audiência Geral (14 de Junho de 1967): Insegnamenti, V (1967), 801.
[9] João Paulo II, Carta ap. Novo millennio ineunte (6 de Janeiro de 2001), 57: AAS 93 (2001), 308.
[10] Discurso à Cúria Romana (22 de Dezembro de 2005): AAS 98 (2006), 52.
[11] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 8.
[12] De utilitate credendi, 1, 2.
[13] Cf. Confissões, 1, 1.
[14] Conc. Ecum. Vat. II, Const. sobre a Sagrada Liturgia Sacrosanctum Concilium, 10.
[15] Cf. João Paulo II, Const. ap. Fidei depositum (11 de Outubro de 1992): AAS 86 (1994), 116.
[16] Santo Agostinho, Sermo 215, 1.
[18] Cf. Conc. Ecum. Vat. I, Const. dogm. sobre a fé católica Dei Filius, cap. III: DS 3008-3009; Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Revelação divina Dei Verbum, 5.
[19] Bento XVI, Discurso no «Collège des Bernardins» (Paris, 12 de Setembro de 2008): AAS100 (2008), 722.
[20] Cf. Santo Agostinho, Confissões, 13, 1.
[21] Const. ap. Fidei depositum (11 de Outubro de 1992): AAS 86 (1994), 115 e 117.
[22] Cf. João Paulo II, Carta enc. Fides et ratio (14 de Setembro de 1998), 34.106: AAS 91 (1999), 31-32.86-87.