terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Pirambu tem 18 mil pessoas para 0,69 km² de área

Um guri de calças curtas tenta escalar o quebra-mar. Diverte-se com os escorregões. Mais adiante, com um paredão de casas à frente, outro menino de meio metro empina a pipa colorida. Mas ela voa baixo entre o azul do oceano e o acinzentado do céu. Sequer ultrapassa o tamanho das construções do Pirambu. Embora pequenas se comparadas às torres da Aldeota, as edificações só crescem. E aglomeram-se. Este é um dos motivos pelo qual a região leva o título de mais densa de Fortaleza. São 18.453 pessoas para apenas 0,69 quilômetro quadrado de área. O território é o terceiro menor dos 15 bairros da Secretaria Executiva Regional (SER) I. Supera, por pouco, os vizinhos Vila Ellery (0,58 km²) e Moura Brasil (0,46 km²). Contudo, a diferença populacional é grande. Estes dois comportam 7.209 e 3.738 moradores, respectivamente.
Se consideradas todas as SERs, o Pirambu tem a 11ª menor área dentre os 116 bairros da Capital. Em meio aos dez mais densos, é o quarto em extensão. Perde para Bom Futuro (0,32 km²), Parque São José (0,54 km²) e Mucuripe (0,62 km²). Mais uma vez, prevalece o quesito população. O trio tem 6.268, 10.495 e 11.900 habitantes, respectivamente. Dunas é o bairro com a menor estatística: são apenas 340 habitantes por km². O levantamento foi feito pela Secretaria de Planejamento e Orçamento (Sepla) da Prefeitura. Batizado de “Fortaleza em números”, o documento toma como base o Censo 2000, com população projetada até julho de 2004. Foi elaborado ainda na gestão de Juraci Magalhães, mas é atualizado anualmente pela equipe da prefeita Luizianne Lins (PT). É o dado mais recente. Contudo, a expectativa da gestão é de que os números do Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mantenham os patamares, já que as características do local (e de quem mora nele) não se modificam. A estratificação por bairros a partir da coleta do ano passado não tem data para ser divulgada. “Quanto mais pobre é o bairro, mais ajuntamento de gente ele tem”, resume a Prefeitura.

Tendência
Mas o inchaço do Pirambu não é à toa. Segue a tendência da capital cearense: abriga gente demais em pouco tempo, espaço e de forma desordenada. Algo visível num breve passeio pelo bairro, mas que poderia ser amenizado (ou até evitado) se um órgão voltado somente para o planejamento da cidade existisse. A promessa da administração é de criar um instituto com este perfil no próximo mês. Há vias que podem ser chamadas de ruelas de tão estreitas. E boa parte das casas tem dois, três...até quatro andares. Todas apinhadas de gente. O nível das calçadas atende ao querer do “dono”. Mas todas as ruas têm asfalto. Ou quase isto. Até os inúmeros becos, o que dá o mínimo de infraestrutura para famílias inteiras encontrarem guarida. E crescerem lá, com o som de ondas batendo ao pé do ouvido e uma vista de encher os olhos de quem mora na rua Santa Elisa. Ou simplesmente passa por ela. “Se não ficasse tudo alagado em dia de chuva e tivesse menos bandidagem, aqui era uma maravilha”, analisa a dona de casa Maria Edna, 42.

ENTENDA A NOTÍCIA
A ocupação desordenada do Pirambu deu ao bairro o traço atual de mais denso. Famílias inteiras nascem e crescem na localidade, que tem o mínimo de infraestrutura e espera ações mais enérgicas do poder público.

RESUMO DA SÉRIE
Ontem, O POVO mostrou que Fortaleza é a capital brasileira com o maior número de habitantes por quilômetro quadrado. Os dados são do IBGE, mas Prefeitura contesta, apesar de admitir o crescimento desordenado da cidade. Hoje, estatísticas da administração municipal mostram que o Pirambu é o bairro mais denso de Fortaleza. A gestão fala em transformar o local numa Copacabana.

Bruno de Castro
brunobrito@opovo.com.br

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