segunda-feira, 12 de abril de 2010

Pregação X Arco e Flexa


Muitas vezes e mesmo por questões de didática, lançamos mão de exemplos e comparações, na tentativa de explicar algo de conteúdo nem sempre definível ou de fácil compreensão. Isto ocorria com as parábolas que Jesus contava, no intuito de falar das coisas do céu a partir das realidades da terra (bom pastor, grão de mostarda, trigo e joio, o semeador, etc).

Isto também ocorre quando se pretende de algum modo, definir o que seja o ministério de pregação e os tipos de pregadores – se é que se poderia enquadrar o pregador dentro de algum perfil determinado, visto que não somente o pregador, mas o ser humano em geral, se apresenta muito mais complexo do que certos conceitos já postos.

Mas, como no início [didaticamente], gostaria também de apresentar alguma contribuição na compreensão do exercício deste lindo ministério.
A visão que se me apresenta daquilo que poderia ser comparado o ministério de pregação e que bem o demonstra seria a da prática do arco-e-flecha. Esta imagem comparativa do arco-e-flecha com o ministério de pregação surgiu quando fiz uma leitura sobre esta atividade e no livro , o autor descrevia pormenorizadamente tudo o que caracterizava tal atividade, bem como a composição de seus elementos (arco, flecha, alvo, etc).
A prática de arco-e-flecha requer alguns elementos que a componham. Não somente, mas a qualidade e uso destes elementos também influenciam o resultado desta atividade. Este elementos são, essencialmente, o arco, a flecha, um alvo e, evidentemente, o arqueiro. Traçando um paralelo entre as atividades do tiro com arco e da pregação, podemos destacar os três elementos desta primeira, a saber: o arco, a flecha e o alvo.

O arco
Originalmente , o arco deve ser feito de um tipo de madeira que resista a grandes tensões, pois o melhor arco é aquele que tem a maior capacidade de envergadura, ou seja, a capacidade de se dobrar sem quebrar (resiliência), pois quanto maior a curvatura que o arco faz, tanto maior é a propulsão com que pode lançar a flecha.
O pregador é como este arco. A “madeira” da qual ele é constituído chama-se oração. É ela que confere a capacidade de resiliência. Ou seja, quanto mais o pregador se “dobra” ou, melhor dizendo, se deixa ser dobrado, tanto melhor é para ele e para seu ministério. Mas – podemos nos perguntar – como um pregador pode se dobrar ou ser dobrado? Respondemos à esta indagação dizendo que a resposta é a oração.
Tanto no sentido de dobrar-se conquanto significa dizer que o pregador é aquele que se dobra, que se coloca de joelhos diante de Deus, bem como ele deve ser dobrado por Ele – no que se refere a deixar-se lapidar, moldar, converter-se por Deus para uma vida de oração – mudando seus valores, conceitos, idéias e ideais, etc.
Então, do mesmo modo que a madeira quanto mais dobrada pode lançar a flecha com maior impulso e distância, assim também quanto mais vida de oração e escuta, portanto, quanto mais dobrado o pregador estiver, mais longe e com maior impulso poderá lançar sua flecha. A esta altura já podemos compreender que ela (a flecha) é a Palavra de Deus. Precisamos nos dobrar constantemente diante do Senhor.

A flecha
Como já pudemos indicar anteriormente, a flecha pode ser compreendida como a própria Palavra de Deus. A flecha é um instrumento pontiagudo, penetrante e quando atinge o alvo, não se pode retirá-la sem dificuldades. Ou seja, uma vez penetrada ela deixa marcas no alvo, profundas e quando se tenta retirá-la, somente imprimindo uma força tal que, mesmo se conseguindo arrancá-la, deixa seus vestígios da perfuração.
De modo semelhante se dá com a Palavra de Deus. São Paulo já se referia à Sagrada Escritura como sendo um instrumento pontiagudo, penetrante . Uma vez lançada esta “flecha” da Palavra de Deus e atingido o alvo, ela não pode ser retirada sem deixar de produzir seu efeito, pois penetra profundamente deixando marcas onde é lançada (anunciada). E, a exemplo da passagem do semeador, caso algo ou alguém venha a retirar a Palavra semeada, esta não sairá sem esforço ou sem dor, pois ela é penetrante deixando sempre seus vestígios .
Entretanto, assim como a flecha se não for lançada, portanto, se não tiver uma força propulsora se torna apenas um pedaço de madeira, sem efeito, não penetra nem fura, de igual modo, a Bíblia quando não anunciada com o poder do Espírito, pode continuar sendo vista pelo mundo como um mero livro que não causa efeito algum. É preciso, pois, lançar a flecha. É preciso anunciar!

O alvo
O terceiro elemento componente da prática de tiro com arco é o alvo. Ele é o objetivo, o destino e fim último da flecha lançada pelo arqueiro. Geralmente é colocado a uma certa distância do arqueiro. Alguns são estáticos. Estão no mesmo lugar apenas “esperando” para serem flechados. Outros são colocados como alvos móveis. Mas uma coisa é comum entre ambos: a flecha precisa alcançá-los. Precisa chegar até eles penetrá-los.
Evidente que nesta comparação o alvo se assemelha ao povo de Deus. Seja ele enquanto assembléia reunida ou o indivíduo separadamente. Como foi dito, o destino e fim último de toda pregação (flecha) deve ser alcançar o coração (alvo) do povo de Deus. O pregador (arco) deve ter isso muito claro em sua mente e no seu coração. Sua pregação não é para a sua glória ou vaidade, mas tão-somente se deixar ser instrumento de Deus para tocar o Seu povo.
Isto exige uma sensibilidade do pregador. Um olhar diferente lançado para cada irmão. O arco não intui parar na flecha, mas se utiliza dela para cravá-la no alvo. Não a retém para si. Assim o pregador não deve calar diante dos irmãos. A flecha precisa ser lançada. Oportuna e inoportunamente, diria São Paulo.
Contudo, nem sempre o povo de Deus se comporta como o alvo estático que, passivamente espera a flecha tocar-lhe o centro. Nosso povo está cada vez mais dinâmico e, por vezes, distante da Palavra do Senhor, nem sempre desejando ou esperando ser tocado por ela. Ao contrário, muitas vezes a rejeita.


O último e fundamental elemento: o arqueiro
Embora tenhamos destacado três elementos nesta prática de arco-e-flecha existe um quarto elemento que dá base e vida para os demais: o arqueiro. O arqueiro escolhe a madeira da qual será feita o seu arco. Trabalha seu arco para alcançar a máxima envergadura e, quando o arco não atinge o ideal, o arqueiro molda seu arco para que atinja tal meta, embora sempre respeitando os seus limites. É ainda o próprio arqueiro quem confecciona a sua flecha. Ele sabe do que ela é feita e para que foi feita.
Sua atenção sempre está voltada para o alvo. Nunca tira os olhos dele, pois sabe que se desviar seu olhar a flecha pode ter outro destino que não o que ele desejaria e, assim, desperdiçaria uma flecha lançada ao vento. O arqueiro sabe, ainda, que precisa forçar ao máximo seu arco para fazer a flecha chegar. Às vezes pode dar a impressão que está forçando muito os limites de seu instrumento, parecendo que irá quebrá-lo em virtude da tamanha força impressa sobre este.
Mas o arqueiro bem sabe que está apenas usando o potencial máximo de seu arco, pois ele o conhece muito bem e sabe até onde ele agüenta. O resultado final: depois de tanto dobrar o arco, o arqueiro lança às maiores distâncias a sua flecha, pois sabe que no fundo ela foi feita para ir o mais longe possível e se não imprimisse tal força no arco o potencial de sua flecha não alcançaria toda sua capacidade.
Talvez nem precisasse continuar a interpretação desta comparação, pois podemos já identificar que este “arqueiro” é Deus. É ele quem escolhe os seus pregadores, que os molda para que sejam melhores no seu ministério e em suas vidas. Trabalha em cada um deles para que a Sua Palavra seja mais e melhor anunciada, a fim de que ela alcance mais e mais pessoas e as conduzam no caminho da conversão, rumo à felicidade eterna.
Neste trabalho de modelagem do seu arco, que somos nós, os pregadores, podemos cair no risco de pensar que nossa carga está muito pesada, ou que Deus está sendo injusto, insensível às nossas dores e dificuldades. É neste momento que precisamos compreender pela fé que é Deus que está, nesta hora, envergando seu arco para que este ganhe mais força. Pode parecer duro, dolorido, pesado, mas é neste momento que Deus prepara os seus profetas para atingirem metas maiores ou, como se diz, avançar para águas mais profundas. Pois, como vimos, o arqueiro (Deus) sempre exige o máximo do seu arco, mas respeita todos os seus limites.
Outro ponto ainda é o fato de Deus estar sempre com seu olhar voltado para seu povo. Seu olhar amoroso sempre o acompanha. Isto sugere e exorta os pregadores a perceberem-se apenas como instrumentos do lançamento da Palavra e não o seu fim. O objetivo de Deus ao vocacionar alguém para este serviço não é outro senão tocar o seu povo. Assim como a flecha parte do arqueiro para o alvo, a Palavra de Deus parte de Deus para seu povo.
E o arco? O arco apenas intermedia. O arqueiro poderia arremessar a flecha diretamente, mas sabe que se utilizar um arco dobrado a flecha chega mais longe. Os pregadores somos este arco dobrado. O Senhor poderia lançar sua Palavra diretamente, mas Ele deseja precisar de nós, porque sabe que um pregador “dobrado” por Deus pode alcançar muitos outros pelo seu testemunho.

Conclusão

De um modo muito singelo apresentamos esta nossa impressão que temos sobre o ministério de pregação. Deus já é um excelente arqueiro, sempre com olhos sobre seu povo e desejoso de fazer com que Sua Palavra alcance todos os corações. O alvo – o povo de Deus – está aí para receber o toque da Palavra Sagrada. Embora, talvez, não se aperceba disso, mas o mundo tem fome e sede de Deus. Compete a nós, pregadores (não somente, mas estendemos a todos os batizados e evangelizados), nos tornarmos excelentes arcos. Nos deixarmos moldar por Deus, sem desanimar, mas trazer dentro de si o desejo ardente de cumprir o mandato que Jesus deixou a seus apóstolos e continuá-lo nestes tempos de hoje: “Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15).


Francisco Elvis Rodrigues Oliveira
Ministério de Pregação

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