Penso que essa deveria ser a primeira pergunta que um ministério ou cantor deveria fazer no momento em que surge a idéia: “Por que quero gravar? Qual é o meu objetivo?”.
Esse é um questionamento muito sério e fundamental, pois nos leva a perceber nossas reais motivações. Muitas pessoas sonham em gravar um CD, em ser artistas famosos. Ao ver, na mídia, músicos que se destacam, que são conhecidos em todo o Brasil e até internacionalmente, que fazem shows em todas as regiões do país, essas pessoas só conseguem enxergar o lado glamoroso do ministério.
É preciso entender que, antes de ser uma realização pessoal, gravar um CD de música católica é um chamado de Deus ao martírio. Ser um cantor católico, segundo a vontade do Senhor, é uma missão muito séria. Só deve gravar um disco quem está disposto a assumir um chamado que implica na doação de toda a vida, não em proveito próprio, mas em função do povo de Deus.
Quem é chamado pelo Senhor para uma missão como essa está sendo convocado para tornar-se um profeta no meio do povo. Claro que todos nós, pelo Batismo, fomos ungidos profetas, mas a missão dessas pessoas é entregar toda a vida em função de profetizar.
A palavra profecia significa “da boca de Deus”. Então quem vai assumir esse chamado tem que estar sempre de olhos, ouvidos e coração bem abertos para captar, para ouvir e acolher, primeiro em sua própria vida, o que Deus quer falar. E em seguida buscar ser fiel na missão de transformar as palavras do Senhor em canção. É preciso estar atento para cantar o que o povo precisa ouvir da boca de Deus.
O músico precisa entender que o seu ministério é do Senhor e que assumi-lo significa estar totalmente entregue nas mãos daquele que o chamou. E estar em suas mãos, ser um escolhido, não nos priva de enfrentar os reveses da vida, os sofrimentos, as lutas, as perdas, as vitórias e derrotas, sucessos e fracassos. Aliás, conta a história que os profetas, os homens e mulheres de Deus sofreram bastante. Como diz o livro do Eclesiástico: “filho, quando entrares para o serviço de Deus, prepara tua alma para a provação (…), pois o ouro e a prata são provados pelo fogo e os homens agradáveis a Deus, pelo caminho da humilhação” (Eclo 2,1.5).
Para suportar e ver sentido nas humilhações e sofrimentos, só tendo certeza de que está se cumprindo não um sonho pessoal, mas um chamado de Deus. Quem quer ser um evangelizador através da música, precisa estar disposto a aprender no dia-a-dia, na própria carne, a passar pelas humilhações (que não são poucas) e pelas dores (que não são pequenas), aceitando quebrar o próprio orgulho.
Aos poucos, sua vida vai sendo consumida e Jesus vai tomando espaço. Como diz São Paulo, “não sou eu quem vivo, é Cristo que vive em mim”. E mais ainda, como disse João Batista: “É preciso que ele cresça e que eu diminua”. É isso mesmo. Quem recebe esse chamado é convocado para, dia a dia, canção a canção, ir diminuindo, sumindo, para que Cristo apareça e seja o mais importante. Isso parece até utópico, mas é bem real.
Quando se tem um trabalho como esse e sua profecia começa a atingir os corações, o músico passa a estar comprometido com aquelas pessoas que cativou. Há entre eles um laço que Deus construiu através das letras, das melodias, dos acordes. Aí já não há mais o homem que queria ficar em casa com a família no sábado à noite. O que há é o missionário que precisa profetizar para um povo sedento de Deus. Claro que o Senhor também reserva para os seus missionários momentos para estar com a família, mas não são tantos quantos eles gostariam.
E o que diria de, após uma missão frutuosa, um acidente no qual morrem pessoas queridas? Isso já aconteceu com pessoas bem conhecidas. Elas continuam na missão, mesmo com a dor e a saudade geradas pela perda. Só continua quem, realmente, foi chamado pelo Senhor.
A meu ver, um CD não deve ser apenas um sonho nosso. Mas um sonho de Deus a nosso respeito. E então, por que você quer gravar um CD?
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